Três pedidos ou se for antes do que você
“Entramos num momento decisivo do capitalismo, no qual não se pode apenas explorar e retirar todos os recursos naturais. É preciso pensar nas futuras gerações e em qual mundo estamos deixando para nossos filhos e netos.”
John Elkington
Temos parentes, amigos, amigos de parentes e parentes de amigos que pegaram o Covid-19. Muitos escaparam, outros não; e você deve ter se flagrado várias vezes pensando na morte. Na própria, na das pessoas próximas, queridas, e até na de gente distante e desconhecida. Eu também.
A finitude da vida se mostra palpável nas tragédias, como a guerra, a fome, os desastres naturais e as pandemias, igual à que temos agora. Segundo a epidemiologia, chegará o momento em que não haverá um único ser humano na face da Terra que não tenha mantido contato com o vírus. Com vacina ou sem vacina eu e você, vivos ou mortos, teremos nosso encontro com a estatística.
Seja como for, a biologia tem razões que a razão desconhece; em certas ocasiões o organismo reage e se supera. É o exemplo da frágil senhora centenária, cheia de doenças crônicas que, após meses de internação, venceu o vírus e saiu sorrindo do hospital, mesmo que numa cadeira de rodas, aplaudida por médicos e enfermeiros. O caso surpreende porque quase 100% dos quadros similares resultam em óbito.
E há, claro, o oposto; gente forte e saudável que não resistiu. Quem pode prever?
A morte da minha amiga Sol me fez pensar que posso deixar esse mundo antes do que você. Se isso ocorrer, quero lhe fazer três pedidos importantes e urgentes:
1º pedido: Ajude a salvar a natureza.
Há décadas que a pista ecológica grita pela nossa atenção. O termo é técnico e indica a quantidade de recursos naturais necessários para produzir os bens que uma população consome. Essa conta não fecha porque nos habituamos a gastar mais do que temos. Isso não pode continuar. A cada ano que passa o overshoot day (o dia do ano em que a natureza se esgota, colapsa e entra no vermelho) chega mais cedo. Em 2020 nosso planeta quebrou no dia 22 de agosto. A Terra pede socorro!
E se você faz parte dos negacionistas, dos que acham que questões ecológicas são perfumaria, quero lhe informar que você está dormindo. Por favor, desperte!
2º Pedido: Ajude a salvar a humanidade.
Só a tola vaidade humana nos faz supor que a espécie Sapiens é imprescindível. Não é! Os cemitérios estão lotados com pessoas imprescindíveis. Precisamos mudar e rápido, se quisermos sobreviver. Parte significativa dos dramáticos impasses que enfrentamos agora, é produto dos milênios de nossa história conduzidos de modo imperial pela testosterona. Na visão de mundo masculina tem excesso de força e rara sutileza, escassa ternura e demasiada rudeza, sobram chefes e há pouca liderança…
O caminho para o futuro da humanidade atravessa o coração, e quem reina nele é a progesterona. A maneira feminina de ver a vida nos fará mais inclusivos, empáticos, afetivos. E se você não percebeu a necessidade de confiarmos no poder transformador das mulheres, você está dormindo. Por favor, desperte!
3º Pedido: Ajude a criar a economia cooperativa e solidária.
É tóxico viver e lidar com tão graves e profundos abismos sociais e econômicos. Ver uma cena de pobreza e não corar delata nossa falta de empatia, de solidariedade, de compaixão. A pobreza não deveria existir. Ninguém nasceu para passar fome, morar na rua, adoecer sem cuidados, não ter educação… Pode ser diferente; não tem por que ser assim. Se você ainda pensa que as carências alheias são só alheias, você está dormindo. Por favor, desperte!
Uma sociedade mais solidária e cooperativa não significa comunismo ou socialismo; e, é óbvio, muito menos capitalismo neoliberal. Nada disso nos fez mais pacíficos e fraternos. Precisamos inventar um modo de convivência que respeite a natureza, não produza sofrimento e trate com dignidade todos os seres vivos. Nós precisamos sair do quadrado. Como? Uma tradição oriental milenar nos sugere que “sonhar com o impossível é o primeiro passo para torná-lo possível.” O ser humano do século XXI precisa despertar e se atrever a sonhar!
Alexandre Henrique Santos
Meu nome é Alexandre e me dedico profissionalmente ao coaching de vida e aos temas comunicação e empatia. Minha missão é facilitar processos de desenvolvimento pessoal e interpessoal. Sou apaixonado pelo que faço; e após quase 4 décadas de prática aprendi a fazer bem.
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A democracia e os 25%
Tenho lido artigos, assistido lives, entrevistas e ouvido diversas análises sobre esse percentual do eleitorado – algo em torno de 25% – que ainda não conseguiu perceber o que realmente está em jogo na próxima eleição. Essa significativa fatia de brasileiros adultos e votantes, seja por ignorância, baixo Q.I. ou pura má fé, acredita que o pleito que se aproxima apenas elegerá Lula ou reelegerá Bolsonaro. Não, não será só isso. As urnas eletrônicas de outubro, sim elas, dirão se escolhemos a civilização ou fincaremos estacas no atoleiro da barbárie. A disputa será entre democracia e fascismo.
Sobre somar e dividir.
Texto sobre as eleições brasileiras
Pior do que um vírus
A comparação é estúpida, reconheço; mas quiçá, a esta altura do genocídio e da CPI do Covid-19, não haja outra melhor. A cifra de cerca de meio milhão de mortos parece responder ao plano que foi posto em prática de modo escancarado, a céu aberto: a tal da imunidade de rebanho. E os que não se opuseram a esse desastre nacional anunciado – nos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e Militar – são cúmplices, por ação ou por omissão. Perdemos para o negacionismo, para a negligência na compra de vacinas e a ausência de uma política sanitária nacional – única, coerente, efetiva e rápida. A questão vai muito além da perda irreparável de cidadãs e cidadãos brasileiros, velhos e jovens. Estamos assistindo à tentativa de diluir os fundamentos da nossa democracia e do Estado de Direito.