Pior do que um vírus

Escrito por
Alexandre Henrique Santos
Publicado em
4/6/2021
pior que o vírus

” A desgraça de um pau verde é ter um pau seco ao lado; Pois o pau seco queima e o verde fica tostado!”
– Refrão popular –

A comparação é estúpida, reconheço; mas quiçá, a esta altura do genocídio e da CPI do Covid-19, não haja outra melhor. A cifra de cerca de meio milhão de mortos parece responder ao plano que foi posto em prática de modo escancarado, a céu aberto: a tal da imunidade de rebanho. E os que não se opuseram a esse desastre nacional anunciado – nos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e Militar – são cúmplices, por ação ou por omissão. Perdemos para o negacionismo, para a negligência na compra de vacinas e a ausência de uma política sanitária nacional – única, coerente, efetiva e rápida. A questão vai muito além da perda irreparável de cidadãs e cidadãos brasileiros, velhos e jovens. Estamos assistindo à tentativa de diluir os fundamentos da nossa democracia e do Estado de Direito.

Embora nada seja exatamente novidade; parece ser um consenso clínico: observando o indivíduo, trata-se de um caso psiquiátrico. Eu, você, sua vizinha ou o pipoqueiro da esquina estamos fadados pela psicologia a replicar os comportamentos pelos quais as pessoas nos reconhecem. Estamos destinados a fazer “mais do mesmo”. Há, por suposto, exceções; as terapias e os banhos de arruda e de sal-grosso provam que algumas mudanças são possíveis. Porém, o que é mesmo entranhadamente íntimo e nosso, isso, paciência, isso nós não conseguimos mudar. Ninguém consegue.

O Pior do que o vírus faz agora o que sempre fez. Com sua explícita obsessão persecutória e desconfiança compulsiva, põe em dúvida até a própria sombra. Confia apenas na Famiglia – ainda assim, fecha um olho e deixa o outro aberto. Prefere as opiniões negacionistas dos neófitos e puxa-sacos contumazes do que a dos profissionais que lhe mostram argumentos científicos e consistentes. Essa paúra doentia a tudo que exale cultura ou que se achegue ao conhecimento, reflete sua própria limitação intelectual. Adora armas e detesta livros. E como se sabe, quem não lê, mal fala, mal ouve e mal vê.

Desconheço o histórico do Pior do que o vírus antes dos anos de caserna. Mas é sabido e comprovado que, já naquela época, notabilizou-se pelos dribles na disciplina militar. Na prática, pegou 15 dias de cadeia e foi expurgado da corporação. Portanto, essa ideia fixa de criar instâncias paralelas (na PF, no Ministério da Saúde, na Abin, no Gabinete do Ódio etc.) apenas reflete, como dito acima, “mais do mesmo”. O temor colossal diante do saber alheio tem sido um fato consumado – porque ele próprio não se ocupou de construir o seu. O estresse e a agonia que expressa diante de momentos de exposição a um público competente e refinado – seja na ONU, em Davos etc. – o tornam protagonista de discursos constrangedoramente curtos e rápidos. O desespero para sair do foco das atenções é similar ao de um furtivo larápio que foi pego em flagrante pelo olhar da audiência. É clara como a luz do dia a inaptidão e o absoluto despreparo do Pior do que o vírus para o cargo e as funções que ocupa. Ele não tem a mais remota ideia do que seja empatia. Mas sabe muito bem mentir, dividir e polarizar.

Dizia da erosão da democracia, do Estado de Direito… Os exemplos de agressividade e arrogância são tão comuns e gratuitos que só podem indicar uma autoestima problemática. Ninguém precisa entender de psicologia para comprovar que o Comandante em Chefe cultiva o perverso prazer de humilhar publicamente seus antigos superiores. E seus antigos superiores fardados têm manifestado uma intestina tendência para engolir de bom grado sapos, lagartos e indisciplinas; preferem deixar a honra de lado em favor das boquinhas e honorários pagos pelo meu, seu e nosso. Isso tudo faz parte do cenário de terra arrasada em que estão tentando transformar o Brazil – sim, escrito com zê.

Nos quartéis, pelo que me consta, dos soldados rasos, passando pelos cabos até os sargentos, o Pior do que o Vírus é o Rei do Pedaço. Parece que há aqui uma espécie de catarse coletiva. Esses senhores e senhoras de baixo coturno entram em êxtase quando veem o dito cujo peitar e humilhar os Três Estrelas. E esse êxtase torna-se quase cósmico se o/a praça pertencer a alguma empresa evangélica, quero dizer, igreja evangélica. Aí o problema é quase insolúvel.

Dia 29 de maio, sábado passado, apenas uma parte da população desperta foi às ruas para protestar. Só uma parte. Sei de muuuuuuita gente desejosa do impeachment que optou por ficar em casa e não se expor – mesmo que com máscara e distanciamento social. Isso significa que a multidão de pessoas que qualificam o (des)governo de ruim e péssimo é imensamente superior ao que se viu nas manifestações. E o caso vergonhoso do Recife, onde a Polícia Militar atacou covardemente cidadãos pacíficos que se manifestavam democraticamente, apenas reforça o sectarismo e a quase-independência desses estratos baixos da hierarquia. Triste, muito triste. Todos já ouvimos dizer que “mau marinheiro, bom capitão”. Num caso ou outro até pode acontecer. Entretanto, saindo do mar para terra firme, o mais comum e realista é que o mau praça se transforme em um capitão ruim. E se o capitão for ruim, é mais do que provável que jamais adquira estatura de Presidente – o exemplo explícito passeia por aí sem máscara.

A mais recente pérola de estupidez foi a decisão de realizar no país a Copa América. Um tapete vermelho para receber com bandeira na mão a Terceira Onda da pandemia. E para finalizar o que não acaba aqui: o Pior do que o Vírus caminha para replicar as cenas finais do reinado Donald Trump. Pouco criativo, segue o roteiro do seu preceptor. Ninguém se surpreenda ao ver o dito cujo se recusar a sair de cena; seja por meio do impeachment ou através do voto direto. Tentará armar um super-mega-barraco. Talvez propor a invasão do congresso ou que seus motoqueiros armados assumam o STF. Mas eu realmente acredito que antes disso estaremos mais fortes e seremos muito mais que 70%.

Quem viver verá.

Alexandre Henrique Santos

Meu nome é Alexandre e me dedico profissionalmente ao coaching de vida e aos temas comunicação e empatia. Minha missão é facilitar processos de desenvolvimento pessoal e interpessoal. Sou apaixonado pelo que faço; e após quase 4 décadas de prática aprendi a fazer bem.

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